Morre o cenógrafo e figurinista mineiro Raul Belem Machado

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September 18, 2012, 2:07 am
Arte e Cultura
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Morreu nesta segunda feira o cenógrafo e figurinista Raul José de Belém Machado (Araguari MG). Cenógrafo, figurinista, arquiteto teatral e professor. Principal cenógrafo mineiro, acumula trabalhos importantes no teatro, na dança e na ópera. Destaca-se pelo trabalho à frente do Centro Técnico de Produção da Fundação Clóvis Salgado e é responsável pela reforma e construção dos principais teatros de Belo Horizonte.

Filho de uma pianista e animadora cultural da cidade de Araguari, no Triângulo Mineiro, Raul Belém cresce envolvido pela música e pelas festas populares (religiosas e folclóricas), barraquinhas e quermesses organizadas pela mãe. Ainda pequeno, aprende a tocar flauta e, com os irmãos e a mãe, forma um conjunto de câmara que se apresenta nos frequentes saraus musicais de sua casa, onde se reúne a elite da cidade.

Em 1964, muda-se para Belo Horizonte a fim de cursar arquitetura na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e logo se integra ao ambiente artístico da cidade. Um ano depois, estreia no teatro como flautista e integrante do coro da peça Antígona, de Sófocles, dirigida por Ítalo Mudado.

Assim que conclui o curso de arquitetura, em 1968, começa a atuar como cenógrafo. Assina seu primeiro cenário em 1969, na montagem de Procura-se uma Rosa, de Glaucio Gill, dirigida por Carlos Alberto Ratton, que fica apenas um dia em cartaz. No mesmo ano, realiza seu primeiro trabalho efetivamente profissional na área da cenografia, para o espetáculo Geração em Revolta, de John Osborne, com direção de Rogério Falabella. Nessa ocasião, conhece o diretor Jota Dangelo, do Teatro Experimental (TE), que se torna um importante parceiro de trabalho.

Entre 1970 e 1980, realiza inúmeros cenários para os espetáculos de Jota Dangelo, entre os quais se destacam Futebol Alegria do Povo, 1969; Oh! Oh! Oh! Minas Gerais, 1971; Pelos Caminhos de Minas, 1975; Os Riscos da Fala, 1979; e Qualé Brasil?, 1980.

A parceria com Dangelo rende também a criação de cenários e figurinos e a codireção de grandes espetáculos de som e luz, concebidos para apresentação em locais abertos, na Semana Santa, em Belo Horizonte, e no dia da Inconfidência Mineira, em Ouro Preto, Minas Gerais. Apreciador das manifestações artísticas em espaços abertos e cortejos de rua, o cenógrafo utiliza a experiência com as grandes produções de rua, montadas com Dangelo, como impulso para assumir uma nova função, a de carnavalesco e planejador visual de festas religiosas do interior do estado. Tem participação significativa nas festas da cidade de Diamantina, Minas Gerais, onde atua como carnavalesco da Escola de Samba Acadêmicos do Tijuco Imperial, entre 1975 e 1977, e organiza os cortejos da Festa do Divino, de 1976 até 1998.  

Ainda na década de 1970, desenvolve cenários e figurinos para peças destinadas ao público infantil, como As Beterrabas do Senhor Duque, de Oscar von Pfuhl, em 1969, e Pé de Vento, de André Carvalho, em 1971, dirigidas por Helvécio Ferreira; e para três produções do Teatro de Pesquisa, dirigidas por Pedro Paulo Cava: Maria Minhoca, de Maria Clara Machado, em 1973,  Romão e Julinha, em 1973, e Dom Chicote Mula Manca, em 1974, ambas de Oscar von Pfuhl. Nesse período, cria cenários para espetáculos para adultos que lhe valem reconhecimento da crítica e dos artistas locais, destacando-se as montagens de A Cantora Careca, de Eugène  Ionesco, 1972, dirigida por José Antônio Souza; Fala Baixo senão Eu Grito, de Leilah Assumpção, 1973, com direção de Eid Ribeiro; e três montagens dirigidas por Ronaldo Brandão: Calígula, de Albert Camus, 1971; Baal, de Brecht, 1972; e O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, 1973. O cenário de Baal é considerado uma das criações mais importantes de sua carreira. Para obter o efeito do distanciamento, Raul Belém cria uma estrutura cenográfica única e flexível manejada pelos atores, marcando as mudanças de cena pelo encaixe e desencaixe dos elementos do cenário. Em 1973, uma maquete desse cenário é exposta na 12ª Bienal Internacional de São Paulo, junto com outros trabalhos do cenógrafo, e recebe elogios do crítico Yan Michalski.

Raul Belém desenvolve trabalhos para companhias de dança de Belo Horizonte; é responsável pela criação dos figurinos para dois espetáculos do Grupo Transforma (1971 e 1972), dirigido pela bailarina e coreógrafa Marilene Martins; pelos cenários e figurinos de Olímpia, Sonho e Realidade, 1976, do Studio Anna Pavlova; e de A Visita de Ony de Ifé ao Obá de Oyó, da Academia de Dança Afro e Primitivas, em 1981.

Em 1982, é contratado pela Fundação Clóvis Salgado como cenógrafo do Palácio das Artes. Nesse cargo, que ocupa até hoje, inicia mais uma fase de sua carreira, criando cenários monumentais para grandes óperas montadas anualmente pela instituição e, ao mesmo tempo, desenvolvendo para a Companhia de Dança do Palácio das Artes cenários e figurinos caracterizados pela leveza e plasticidade. Entre as óperas, destaca-se o cenário da Cavalleria Rusticana, de P. Mascagni, 1989, inspirado na arquitetura de Diamantina; e, entre os espetáculos de dança, são memoráveis os cenários e figurinos de Tribana, 1983; Diadorim, 1985; e Triunfo, um Delírio Barroco, 1986. Continua a realizar trabalhos fora da fundação, com diretores já consagrados na cena mineira. A parceria com Pedro Paulo Cava resulta nos cenários de O Bravo Soldado Schweik, de Jaroslav Hasek, em 1980; Galileu Galilei, de Brecht, 1983; Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, 1984; Lua de Cetim, de Alcides Nogueira, 1986; O Senhor Puntila e o Seu Criado Matti, de Brecht, 1986; Frank Quinto, a Farsa dos Bancos, de Friedrich Dürrenmatt, 1987; e Bella Ciao, de Luís Alberto de Abreu, 1988.

Na Fundação Clóvis Salgado, Raul Belém inicia a carreira docente, ensinando cenografia no Centro de Formação Artística (Cefar), que reúne escolas de teatro, dança e música. Leciona também caracterização cênica e história da arte no Núcleo de Artes Cênicas, do Instituto de Filosofia, Arte e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Posteriormente, leciona matérias ligadas a sua experiência como figurinista na Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec) e no Centro Universitário UNA. Em 1992, coordena a Oficina de Cenotecnia do projeto Resgate e Desenvolvimento de Técnicas Cênicas, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (Ibac), com apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA). O projeto, com a participação do cenógrafo J. C. Serroni, como coordenador da oficina de arquitetura cênica, objetiva organizar e padronizar a nomenclatura técnica de cenografia em língua portuguesa e espanhola que resulta em uma publicação, obra reeditada pela Fundação Nacional de Arte (Funarte).

No ano 2000, desenvolve para o Palácio das Artes a cenografia de uma remontagem da Cavalleria Rusticana, desta vez inspirada na paisagem dos cerrados de Goiás. Destacam-se, também, os monumentais cenários criados para Aída, de Verdi, em 2001; O Guarani, de Carlos Gomes, em 2002; e Turandot, de Puccini, em 2004. Como cenógrafo e figurinista de óperas e operetas, Raul trabalha com diretores de cena consagrados nacionalmente, entre eles Fernando Bicudo, Juarez Cabello, Cleber Papa, Tizuka Yamazaki e Bibi Ferreira.

Em 2004, Raul Belém implanta o Centro Técnico de Produção (CTP) da Fundação Clóvis Salgado, que sai dos limites do Palácio das Artes e passa a ocupar vastos galpões de uma antiga fábrica de tecidos, localizada em Sabará, município da Grande Belo Horizonte, e assume a coordenação artística do centro. O CTP, além de ser um local para armazenamento do acervo de figurinos da fundação, funciona como ateliê de criação e execução de cenários e figurinos e espaço de ensino de especialidades ligadas a essas áreas, incluindo maquinaria cênica, alfaiataria, maquiagem e criação de adereços.   

A versatilidade de Raul Belém revela-se também na arquitetura teatral, e ele é responsável por inúmeros projetos de construção e reforma de teatros, como o Teatro Klauss Vianna, o Teatro da Cidade, o Teatro da Praça, o Teatro D. Silvério, o teatro do Centro Cultural Galpão Cine Horto, o Teatro Izabela Hendrix e o Teatro da Maçonaria, em Belo Horizonte. No interior de Minas Gerais assina a reforma do teatro da Casa de Cultura de Itabira e o projeto de reforma do Teatro Municipal de Ouro Preto (Casa da Ópera).

Fonte: http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=personalidades_biografia&cd_verbete=8935

Author: Joao Vianna
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Source: Joao Vianna
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