New England, 29 de Dezembro de 2010, by Paulo Monauer. Na teoria, o programa do governo federal tem o objetivo de checar o status imigratório de todos os imigrantes presos no estado para “livrar as comunidades dos criminosos”. Na prática, segundo números federais, dos 230 imigrantes deportados de Boston desde outubro de 2008, 125 não tinham qualquer histórico criminal, ou seja, mais da metade dos deportados.
‘O Secure Communities nada mais é do que um software’.
Na verdade, o “Secure Communities” nada mais é do que um software que possibilita aos policiais comparar as impressões digitais dos recém-detidos com os arquivos do Departamento de Imigração, além dos bancos de dados do FBI, que já é consultado hoje. A Polícia Estadual acaba de receber o aval para usar o programa quando prender alguém, mas isso não significa que os policiais vão investigar e deter imigrantes por suspeitarem que vivam ilegalmente nos EUA.
No papel, esse projeto é menos grave do que o 287(g), que foi o programa do governo federal que treinava policiais para investigar e prender imigrantes ilegais – também para deter criminosos e membros de gangues de rua. Dois anos depois de sua implementação em Framingham, por exemplo, o 287(g) resultou em apenas três prisões. E logo depois foi descontinuado. Hoje o “Secure Communities” já está presente em 34 estados.
Segundo John Grossman, subsecretário para Segurança Pública do escritório do governador, a Administração Obama planeja implantar o “Secure Communities” em todo o país até 2013. “Mas então ele (o governador) poderia ter escolhido implantar o programa em Massachusetts só em 2013,” disse o ativista Marcony Almeida. “Aliás, eu falei isso com o governador, e ele me disse que foi aconselhado pelos assistentes jurídicos a implementá-lo agora.
Aí eu disse, os seus assistentes são antiimigrantes,” disse Almeida. Na verdade, o que está por trás da implementação do programa em Massachusetts é o fluxo de recursos. Já foi comprovado que para cada imigrante preso no sistema carcerário do estado, o governo federal paga US$ 90 por dia. E também já foi noticiado que as cidades onde ficam os presídios estavam usando esses recursos para consertar ambulâncias e fazer pequenas obras de infraestrutura. E não é só em Massachusetts que a prisão de trabalhadores imigrantes é um negócio lucrativo.
No Arizona, uma reportagem da rádio pública National Public Radio (NPR), revelou que os maiores doadores da campanha de reeleição da governadora Jan Brewer foram justamente os donos dos presídios privados. Ou seja, tanto em Massachusetts quanto no Arizona, quanto mais imigrantes detidos, mas os donos da carceragem faturam dinheiro do governo federal. Foi então que o governo federal resolveu dar um basta, e criou uma maneira de deportar os imigrantes com mais agilidade. A reação dos ativistas comunitários veio logo em seguida.
“O governador traiu a nossa confiança. Ele foi amplamente apoiado pelos imigrantes e sem o voto maciço das nossas comunidades talvez não tivesse sido reeleito,” disse Heloisa Galvão, presidente da ONG Grupo Mulher Brasileira. Heloisa conclamou todos os brasileiros a não se calarem “diante da injustiça.” “Peguem no telefone agora mesmo e liguem para o gabinete do governador. Ele precisa saber da nossa desilusão,frustração e mesmo raiva por esta atitude desonesta,” completou. Chegou mesmo a hora de a liderança comunitária abandonar a postura defensiva.
A melhor reação para uma situação que faz milhões de famílias sentirem que o cerco está se fechando a volta delas, seria uma declaração coletiva para dizer o seguinte: enquanto as autoridades estaduais contribuírem com qualquer programa que resulte em deportação em massa, os imigrantes de nenhuma comunidade – de nenhuma cidade do estado – vai mais denunciar para a polícia qualquer crime que aconteça em todo Massachusetts.
Em outras palavras, não contem conosco enquanto soubermos que não podemos contar com vocês. Importante: Ainda não foi assinado o acordo oficial entre o Estado de MA e Governo Federal, tudo será definido em janeiro/2011, de acordo com a declaração de Richard Chacon, diretor do Office for Refugees and Immigrants do Estado de Massachusetts.
Fonte: www.jornaldossportsusa.com
