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ASHINGTON - O debate sobre a imigração avivou o ódio
racista e a proliferação, nos Estados Unidos, de grupos extremistas, segundo um
relatório divulgado hoje pela organização de direitos humanos Centro Legal
sobre a Pobreza no Sul dos EUA (SPLC, na sigla em inglês).
A entidade, com sede em Maryland, disse hoje que as
estatísticas policiais indicam que, de 2003 a 2006, os crimes de ódio contra os
latinos aumentaram 35%.
Os grupos que fomentam o ódio racial cresceram 5% em 2007,
até 888, 44 mais que em 2006, afirmou Mark Potock, do SPLC. O crescimento
desses grupos pode ser atribuído à "exploração feita pelos grupos de ódio
do debate sobre a imigração e se soma a outros 300 grupos antiimigrantes que se
formaram nos últimos três anos", acrescentou.
O SPLC inclui em sua classificação de grupos de ódio
organizações e movimentos como
agrupamentos neonazistas, separatistas negros, gangues de motociclistas, a Liga
de Defesa Judaica, e a Igreja Nova Jerusalém.
Este ano, o SPLC acrescentou em sua lista a Federação
Americana pela Reforma de Imigração (Fair, na sigla em inglês), organização
que, em seu site, rejeita essa qualificação. De acordo com o FBI (polícia
federal
americana),
os "crimes de ódio e preconceito, que vão desde os linchamentos à queima
de cruzes e destruição de sinagogas, são um fato triste da história dos
EUA". Outros 15,5% tiveram relação com a orientação sexual das vítimas e
12,7% "se deveram à origem étnica ou nacional".
Além disso, 66,4% dos crimes por motivos raciais foram
originados por preconceito do agressor contra os negros; 21% de ódio contra os
brancos, e o resto sofreu violência por ter origem asiática ou indígenas
americanos.
Para o FBI, os ataques
contra os hispânicos não respondem a "preconceitos raciais", mas à
origem nacional.
Entre as vítimas de delitos de origem étnica ou nacional,
62,8% foram atacados pelo preconceito contra hispânicos, segundo dados do FBI.
As estatísticas policiais também indicam que os autores
desses crimes eram brancos (58,6%), negros (20,6%) e indivíduos "de raças
múltiplas" (5,7%).
O racismo e a discriminação a certas minorias étnicas
continuam em diversos setores dos Estados Unidos, do acesso à moradia e à
escola até a justiça, segundo as conclusões divulgadas pelo Comitê da ONU para
a Eliminação da Discriminação Racial.
O documento afirma que minorias como os afro-americanos e os hispânicos
"estão concentrados de forma desproporcional em áreas residenciais pobres
caracterizadas por condições de moradia inferiores, com oportunidades limitadas
de emprego, acesso inadequado à saúde, escolas mal dotadas e alta exposição ao
crime e à violência".
O comitê, por isso, pede para que o Governo americano
intensifique seus esforços para reduzir "o fenômeno da segregação
residencial baseada na origem racial, étnica ou natural".
O organismo da ONU se diz preocupado com "a
persistência de uma segregação racial nos colégios públicos" e pede a
análise das causas deste fenômeno para elaborar estratégias efetivas para seu
fim.
O texto também constata discriminação racial no sistema de
justiça criminal, com um desproporcional número de pessoas pertencentes a minorias
entre a população reclusa, "o que se deve supostamente ao tratamento mais
severo que estes acusados, especialmente os afro-americanos, recebem em vários
períodos do processo criminal".
Também critica o "diferente impacto" que teve o
furacão Katrina, em 2005, nos residentes afro-americanos de baixa renda,
"muitos dos quais continuam desabrigados mais de dois anos depois" do
desastre natural.
Por isso, pede à administração que aumente seus esforços
para facilitar o retorno dos desabrigados a seus lares ou lhes garanta o acesso
à moradia.
A discriminação racial nos EUA afeta também a população
indígena, segundo o comitê, que se mostra preocupado pelas informações sobre
"atividades - como
testes nucleares e armazenamento de produtos tóxicos - realizadas ou planejadas
em zonas de significado espiritual ou cultural para os nativos
americanos".
Durante os dias em que o Comitê estudou o caso americano,
diversas ONGs e grupos defensores dos direitos humanos criticaram a atitude da
delegação oficial dos EUA, composta por vários funcionários enviados por Washington, de negar que
as desigualdades que existem no país sejam causadas pela discriminação racial.
Fonte: ultimosegundo.com.br